O início da viagem
"A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse: “Não há mais o que ver”, saiba que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre."
José Saramago
Este é o início de uma viagem, um desafio lançado no calor da lareira e ao sabor da minha tão apreciada ginjinha, cujo restinho, trazido das aldeias históricas, foi guardado religiosamente para acalentar uma fria noite de inverno. Esperei o outono, esperei o inverno (estamos em março e nem sinal da tão abençoada chuvinha), esperei, desesperei, e foi numa noite de frio assim assim, que aceitei degustar o escasso néctar e o desafio de ir aqui escrevendo os meus diários de bordo que vou fazendo sempre que tenho a oportunidade de viajar.
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